O amanhecer desta quinta-feira foi de olhos
vermelhos para a educação paranaense. Não é efeito tardio dos sprays de pimenta ou das bombas de gás
lacrimogênio, mas, sim, prantos dos profissionais da educação que sofreram ou
viram sofrer na pele o tratamento truculento oferecido pela Polícia Militar.
Em um episódio sem precedentes na história do
Paraná, nossos mestres foram tratados como bandidos. Tudo sob o pretexto de
proteger o patrimônio público de uma invasão à Assembleia Legislativa enquanto
se votava um projeto que alivia as contas (em total desequilíbrio) do Tesouro
Estadual, mas pode comprometer a aposentadoria dos servidores que contribuem ao
ParanáPrevidência.
Fico pensando: será que as dependências da Casa
de Leis de todos os paranaenses são mais importantes que as mais de 200 vidas
que sofreram uma violência tão grande e absurda a ponto de precisarem
atendimento médico (inclua nessa conta os policiais feridos no confronto)? Vale
a pena empregar uma força policial daquele porte e desguarnecer os efetivos de
todo o Paraná?
Ainda que tenha havido black blocs infiltrados entre os professores, é legítimo agir com
tamanha truculência contra pessoas que usam o giz como única arma? Isso é de
uma covardia tão grande como dizer que a manifestação foi um ato orquestrado
por setores de esquerda.
É justificar o injustificável, é
institucionalizar a indiferença com o sofrimento alheio. O sangue, o suor, as
lágrimas não têm cores partidárias. Doem e ponto final. Essas feridas (ainda
que, em algumas pessoas, apenas morais) precisam de tratamento e não de
julgamento apressado e preconceituoso como se tem visto aos montes por aí...
Muitos comparam esse 29 de abril de 2015 ao 30
de agosto de 1988, quando o então governador Álvaro Dias utilizou a cavalaria
para reprimir um protesto dos professores da rede estadual. Embora todos os
analistas concordem que os incidentes de ontem foram piores que os de 26 anos
atrás, eu prefiro equiparar esta quarta-feira ao que ocorreu em várias cidades
do Brasil em 15 de março e 12 de abril deste ano.
Convocadas pelos movimentos mais à direita da
nossa sociedade, as passeatas “Fora Dilma!” não mereceram, em momento algum,
todo esse aparato policial que foi instalado no Centro Cívico de Curitiba desde
o último fim de semana. Aí eu lhe pergunto: será que apenas os bem-educados
das classes “A” e “B” sabem protestar, conhecem boas maneiras e respeitam o
patrimônio público?
Claro que não! O que muda como os governantes
voltam seus olhares para quem manifesta: se é a favor, proteção; se é
contrário, repressão. Ao contrário do que o governador Beto Richa disse, não dá
para classificar a reação dos policiais como legítima defesa tamanha foi a
truculência.
Petistas, tucanos, alheios à política. Ricos,
classe média, pobres. Autoridades, influentes e anônimos. Do Norte, do Oeste,
dos Campos Gerais, do Litoral ou da Capital. Todos, sem exceção, pagam (ou
deveriam pagar) seus impostos para financiar a estrutura de segurança pública e
não o fazem para receber tratamento de bandido pela PM de nosso estado.
Para quem não conhece a realidade da escola
pública, é fácil criminalizar os professores que, em defesa de seus direitos e
dos demais servidores do Governo do Paraná (inclusive os dos policiais militares),
nada mais fizeram do que evitar que uma lei contrária a seus interesses fosse
aprovada. Aliás, que mal tem nisso? Os políticos e os “bam-bam-bans” da
sociedade não agem desta forma, muitas vezes em atividades escusas?
Como “(spray
de) pimenta nos olhos dos outros é refresco”, fica o professor como vilão da
história na visão míope e tacanha de alguns, personificada nos funcionários do
Palácio Iguaçu, que tendem a ser eternamente anônimos, que comemoravam as
investidas dos policiais contra os manifestantes. Nada surpreendente em uma
sociedade que coloca a culpa na vítima antes de punir (e quando pune) os
verdadeiros culpados...
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