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quinta-feira, 30 de abril de 2015

(Spray de)Pimenta nos olhos dos outros é refresco...



O amanhecer desta quinta-feira foi de olhos vermelhos para a educação paranaense. Não é efeito tardio dos sprays de pimenta ou das bombas de gás lacrimogênio, mas, sim, prantos dos profissionais da educação que sofreram ou viram sofrer na pele o tratamento truculento oferecido pela Polícia Militar.

Em um episódio sem precedentes na história do Paraná, nossos mestres foram tratados como bandidos. Tudo sob o pretexto de proteger o patrimônio público de uma invasão à Assembleia Legislativa enquanto se votava um projeto que alivia as contas (em total desequilíbrio) do Tesouro Estadual, mas pode comprometer a aposentadoria dos servidores que contribuem ao ParanáPrevidência.

Fico pensando: será que as dependências da Casa de Leis de todos os paranaenses são mais importantes que as mais de 200 vidas que sofreram uma violência tão grande e absurda a ponto de precisarem atendimento médico (inclua nessa conta os policiais feridos no confronto)? Vale a pena empregar uma força policial daquele porte e desguarnecer os efetivos de todo o Paraná?

Ainda que tenha havido black blocs infiltrados entre os professores, é legítimo agir com tamanha truculência contra pessoas que usam o giz como única arma? Isso é de uma covardia tão grande como dizer que a manifestação foi um ato orquestrado por setores de esquerda.

É justificar o injustificável, é institucionalizar a indiferença com o sofrimento alheio. O sangue, o suor, as lágrimas não têm cores partidárias. Doem e ponto final. Essas feridas (ainda que, em algumas pessoas, apenas morais) precisam de tratamento e não de julgamento apressado e preconceituoso como se tem visto aos montes por aí...

Muitos comparam esse 29 de abril de 2015 ao 30 de agosto de 1988, quando o então governador Álvaro Dias utilizou a cavalaria para reprimir um protesto dos professores da rede estadual. Embora todos os analistas concordem que os incidentes de ontem foram piores que os de 26 anos atrás, eu prefiro equiparar esta quarta-feira ao que ocorreu em várias cidades do Brasil em 15 de março e 12 de abril deste ano.

Convocadas pelos movimentos mais à direita da nossa sociedade, as passeatas “Fora Dilma!” não mereceram, em momento algum, todo esse aparato policial que foi instalado no Centro Cívico de Curitiba desde o último fim de semana. Aí eu lhe pergunto: será que apenas os bem-educados das classes “A” e “B” sabem protestar, conhecem boas maneiras e respeitam o patrimônio público?

Claro que não! O que muda como os governantes voltam seus olhares para quem manifesta: se é a favor, proteção; se é contrário, repressão. Ao contrário do que o governador Beto Richa disse, não dá para classificar a reação dos policiais como legítima defesa tamanha foi a truculência.

Petistas, tucanos, alheios à política. Ricos, classe média, pobres. Autoridades, influentes e anônimos. Do Norte, do Oeste, dos Campos Gerais, do Litoral ou da Capital. Todos, sem exceção, pagam (ou deveriam pagar) seus impostos para financiar a estrutura de segurança pública e não o fazem para receber tratamento de bandido pela PM de nosso estado.
 
Para quem não conhece a realidade da escola pública, é fácil criminalizar os professores que, em defesa de seus direitos e dos demais servidores do Governo do Paraná (inclusive os dos policiais militares), nada mais fizeram do que evitar que uma lei contrária a seus interesses fosse aprovada. Aliás, que mal tem nisso? Os políticos e os “bam-bam-bans” da sociedade não agem desta forma, muitas vezes em atividades escusas?

Como “(spray de) pimenta nos olhos dos outros é refresco”, fica o professor como vilão da história na visão míope e tacanha de alguns, personificada nos funcionários do Palácio Iguaçu, que tendem a ser eternamente anônimos, que comemoravam as investidas dos policiais contra os manifestantes. Nada surpreendente em uma sociedade que coloca a culpa na vítima antes de punir (e quando pune) os verdadeiros culpados...




terça-feira, 28 de abril de 2015

Socorro, Tarzan!


Quem sou eu? O macaco que caiu do galho. Como eu sei isso? Ora, se em meio a tantas máquinas sendo programadas para acertos automáticos, e mesmo muito reguladas cometem erros, eu que sou um ser modificado a cada instante, caí do galho em meio essa metamorfose incessante. Aí percebo que já passamos da época que pisávamos em ovos, agora damos passos fortes a todo momento buscando alguma afirmação social. Ninguém anda devagar, a pressa bate à porta, cada dia mais cedo.

Quem sou eu? Depois que caí do galho não tenho muita certeza. Sei das denominações familiares, da minha carreira profissional, sei que sou amiga de alguns,  universitária, ora Cristo, ora Judas. Sempre na lida de (sobre)vivência. Veja que bela condição é tudo isso. A condição que você obedece todos os dias e que deixa em você uma forte sensação confusa e inarticulada de que alguma coisa não está funcionando bem.

Ou será que tudo funcionará bem quando se tem mil obrigações para cumprir, quando somos mais do que o poeta das sete faces e, além disso, é preciso achar todas as combinações do cubo mágico ao mesmo tempo em que cuidar da família, da profissão, do eu, das perspectivas?

E, falando em perspectivas, quais as perspectivas além de manter a barra de vida cheia nesse dance dance revolution?

A coisa está séria.  A máquina entrou em pane quando a razão tentou controlar tudo. E o humano perdeu as razões quando inventou tanta coisa. Tanto botão para apertar como o Chaplin já denunciou, tanta inovação tecnológica que perdemos os moldes, a estrutura, e agora vivemos uma modernidade líquida, como já alertou Bauman.

Fica um recado: não pare. Se lhe faltam perspectivas de planejamento a longo prazo, é melhor você manter o ritmo da loucura, correr atrás e praticar a técnica de como sair da areia movediça. Igual ao Tarzan, aprender balançar no cipó para sobressair uma tendência que irá, se não apenas modificar nossa agilidade, quem sabe cumprir um novo tipo de seleção natural engolindo os desatentos.

Fica uma dica de vídeo para instigar reflexões sobre nossas vidas. 









quarta-feira, 22 de abril de 2015

Mudar é sempre bom. Será mesmo?



O estímulo à transformação é tema recorrente de nove em cada dez livros de autoajuda, mas, nesse contexto, ela sempre ocorre para melhor. Não sou defensor da acomodação, mas não é possível concordar sempre com o discurso de muita gente de que é necessário abrir mão de alguma coisa para conseguir algo maior.

Existem perdas que abrem feridas em nossa alma que nem mesmo o tempo (o melhor dos remédios) é capaz de curar, ainda mais quando estão relacionadas a algo que dá sentido à nossa existência. A maior das violências pela qual um ser humano pode passar é ter que se afastar, contra a própria vontade, da casa onde mora.

É o caso dos refugiados de guerra, que, para salvar a própria vida, precisam se mudar de forma repentina e sem olhar para trás, como as 43 milhões de pessoas no mundo que vivem em situação precária após terem que fugir dos horrores da guerra em sua terra natal. Toda essa multidão de refugiados deseja, no mais profundo da sua alma, que as armas se calem e que a vida volte a ser como era antes.

Essa esperança – ainda que remota em alguns lugares do mundo – existe, é possível. Pior é quem precisa fugir do progresso, ser um exilado do atropelo do mundo pós-moderno.

O exemplo mais emblemático desta situação são os atingidos pelas barragens formadas pela construção de usinas hidrelétricas. Para eles, bater em retirada é um processo irreversível, quase uma morte.

Em questão de dias, um passado de lutas, conquistas e lembranças será inundado para sempre pelas águas de uma represa. O sofrimento é ainda maior para aqueles que estão naquele pedaço de terra há décadas.

Ainda que de forma indireta, a canção “Mudança”, obra-prima dos compositores Chico Amado e Caetano Erba, descreve bem esta situação. De forma poética (em primeira pessoa), é relatada a “despedida” de um agricultor da terra que tanto ama e, para amenizar este sofrimento, coloca em cima do caminhão tudo aquilo que o fará lembrar sempre daquele pedaço de chão. 

É uma música que vale a pena ser ouvida (confira no vídeo abaixo). E se, ainda assim, ela não lhe comover, existe mais um motivo para esta situação merecer a atenção.
Quando essa “batida em retirada” é feita de forma precepitada, sem respeitar os direitos e os sentimentos desses “exilados”, problemas sociais surgem na região onde a hidrelétrica foi construída. É bom lembrar que o público presente ao encontro que originou o MST, em 1984, era, em sua maioria, de agricultores que tiveram suas terras alagadas pelo Lago de Itaipu e não receberam de Furnas o valor justo de indenização.
Em verso ou prosa, cantada ou declamada, a mudança nem sempre é o melhor caminho. Ela só pode ser bem-vinda na vida de alguém quando convidada por um desejo próprio de transformação, jamais por influência externa.