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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Mudar é sempre bom. Será mesmo?



O estímulo à transformação é tema recorrente de nove em cada dez livros de autoajuda, mas, nesse contexto, ela sempre ocorre para melhor. Não sou defensor da acomodação, mas não é possível concordar sempre com o discurso de muita gente de que é necessário abrir mão de alguma coisa para conseguir algo maior.

Existem perdas que abrem feridas em nossa alma que nem mesmo o tempo (o melhor dos remédios) é capaz de curar, ainda mais quando estão relacionadas a algo que dá sentido à nossa existência. A maior das violências pela qual um ser humano pode passar é ter que se afastar, contra a própria vontade, da casa onde mora.

É o caso dos refugiados de guerra, que, para salvar a própria vida, precisam se mudar de forma repentina e sem olhar para trás, como as 43 milhões de pessoas no mundo que vivem em situação precária após terem que fugir dos horrores da guerra em sua terra natal. Toda essa multidão de refugiados deseja, no mais profundo da sua alma, que as armas se calem e que a vida volte a ser como era antes.

Essa esperança – ainda que remota em alguns lugares do mundo – existe, é possível. Pior é quem precisa fugir do progresso, ser um exilado do atropelo do mundo pós-moderno.

O exemplo mais emblemático desta situação são os atingidos pelas barragens formadas pela construção de usinas hidrelétricas. Para eles, bater em retirada é um processo irreversível, quase uma morte.

Em questão de dias, um passado de lutas, conquistas e lembranças será inundado para sempre pelas águas de uma represa. O sofrimento é ainda maior para aqueles que estão naquele pedaço de terra há décadas.

Ainda que de forma indireta, a canção “Mudança”, obra-prima dos compositores Chico Amado e Caetano Erba, descreve bem esta situação. De forma poética (em primeira pessoa), é relatada a “despedida” de um agricultor da terra que tanto ama e, para amenizar este sofrimento, coloca em cima do caminhão tudo aquilo que o fará lembrar sempre daquele pedaço de chão. 

É uma música que vale a pena ser ouvida (confira no vídeo abaixo). E se, ainda assim, ela não lhe comover, existe mais um motivo para esta situação merecer a atenção.
Quando essa “batida em retirada” é feita de forma precepitada, sem respeitar os direitos e os sentimentos desses “exilados”, problemas sociais surgem na região onde a hidrelétrica foi construída. É bom lembrar que o público presente ao encontro que originou o MST, em 1984, era, em sua maioria, de agricultores que tiveram suas terras alagadas pelo Lago de Itaipu e não receberam de Furnas o valor justo de indenização.
Em verso ou prosa, cantada ou declamada, a mudança nem sempre é o melhor caminho. Ela só pode ser bem-vinda na vida de alguém quando convidada por um desejo próprio de transformação, jamais por influência externa.




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