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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O futuro já começou?


Nunca se falou tanto dos filmes da série “De volta para o futuro” como nesta semana. Se a ficção científica fosse verdadeira, Marty McFly teria aparecido com o Delorean nesta quarta-feira, 21 de outubro de 2015.

Muito se comparou a respeito das tecnologias que o filme apresentou com aquilo que realmente se confirmou. Skates voadores e videoconferências à parte, é pertinente avaliar como o mundo mudou desde 1985, quando o segundo filme da série.

Nos últimos 30 anos a ciência evoluiu muito, sem dúvida. Mas, o que o ser humano tem feito com toda essa tecnologia?

A Guerra Fria acabou, mas o terrorismo continua causando o mesmo temor que as ogivas nucleares norte-americanas e soviéticas. A internet fez o mundo transpor barreiras muito maiores que o Muro de Berlim.

Na esteira de Margareth Thatcher, então primeira-ministra da Inglaterra, as mulheres ganharam espaço no mercado de trabalho e no gabinete das maiores nações e empresas do mundo. Entretanto, continuam – não importa avaliar por culpa de quem – sendo subjugadas pelo machismo mundo afora.

As crianças da década de 80, que sonhavam com uma autorização dos pais para poder ficar assistindo à TV até mais tarde, já não existem mais. Hoje elas já nascem sabendo lidar com recursos muito mais modernos do que aquela geringonça que ainda nem tinha controle remoto. O que não mudou foi a indiferença dos adultos que sempre as colocam como a ponta mais fraca dessa corda.

Minorias como homossexuais, imigrantes, negros, indígenas e muitas outras continuam sendo alvos de perseguições quase sempre injustificadas. Quanto aos idosos, poucas mudanças também...

A exemplo do Doctor Brown, eles sonham com a invenção (de verdade) de uma máquina do tempo que os leve de volta à juventude, livres das limitações do preconceito e do corpo. Mas desejam fazê-lo com a maturidade que têm hoje, evitando os erros que cometeram ao longo de uma vida.

A verdade, porém, é uma só: é “quebrando a cara” que se aprende a fazer do jeito certo. E como o personagem interpretado por Cristopher Lloyd alerta em vários momentos da trilogia “De Volta para o Futuro”, mudar alguma coisa no passado pode ser altamente perigoso, pois desencadeia reações em cadeia que acabam fugindo do controle.

Longe de mim discutir com Doc Brown, mas essa advertência esconde o medo inconsciente que o ser humano tem do tempo: o passado que causa arrependimento, o presente de decisões difíceis e o futuro com incertezas – misturar tudo isso dá uma confusão enorme. E sabe a que conclusão chego: que a mediocridade ainda impera na humanidade tanto quanto há 30 anos, seja por comodismo ou por interesse dos poderosos em deixar as coisas como estão.






Congrego da mesma opinião do meu amigo cartunista Maycon Catelli. Além de não ter visto nada daquilo que estava no roteiro, McFly, se realmente tivesse dado as caras por aqui nesta semana, teria encontrado um mundo diferente, mas não melhor.
Ok, em 1985 eu não era nascido, mas percebo que ainda existem muitas negligências acontecendo naquilo que é mais básico ao ser humano. As redes sociais possibilitam contato com milhares de pessoas, mas nada que supra a presença real dos amigos de verdade e da família, instituição cada vez mais fragilizada.
Falta alguma coisa para se apegar, como a tão controversa fosfoetanolamina para as pessoas que estão com câncer e, a julgar pela importância que o Ministério da Saúde dá à substância, mais parece ser uma fórmula de uma tia benzedeira do bairro. Sobram contradições, como a dos policiais militares de São Paulo, que estão à serviço da população e do estrito cumprimento da Lei, aplaudindo um colega sendo levado pela Polícia Civil para a prisão por causa de torturas cometidas por ele contra um suspeito de roubo até ele confessar um crime – e em se tratando de tortura, não importa se o indivíduo é ou não culpado uma vez que este não é obrigado a produzir provas contra si, sendo esta uma responsabilidade do Estado.
Acreditar em algo que a ciência não deu a palavra final ou, por meio de um ponto de vista parcial, conferir o status de herói a quem cometeu um crime mostra como o ser humano precisa melhorar. Tão importante como inventar máquinas que oferecem conforto, rapidez e praticidade (ou talvez alguma que faça viajar no tempo) é adotarmos práticas que concorram para a nossa felicidade.
O Delorean do Doctor Brown saiu de cena ainda na década de 80, mas o nosso desejo em ser melhores deve sempre estar na tela da nossa vida...