Todo 31 de março é assim: sempre há alguém
que lembre do aniversário do (contra)golpe militar que culminou na deposição do
presidente João Goulart em 1964. Mesmo tendo nascido 23 anos desta fatídica
data, darei graças a Deus o resto da minha vida por este dia ter acontecido.
Fico imaginando como o Brasil, minha terra
amada tão cheia de riquezas, seria caso Jango realmente tivesse feito as
“reformas de base”, um nome bonito para um vergonhoso golpe comunista em nosso
país. Fim dos latifúndios, reforma urbana, distribuição de renda, para quê?
Só se fosse para levar o nosso país para o
abismo. Para que ter governo para favorecer essa gente que nada faz para o
desenvolvimento da economia. Está certo que eles se matam de tanto trabalhar
nas lavouras e nos chãos de fábrica, mas não poderiam fazer nada se não fosse a
dignidade e a capacidade dos nossos empreendedores.
A experiência lulodilmista na última década
em nosso país seria brincadeira de criança caso as ideias de João Goulart
tivessem vingado. Certamente Fidel Castro e Mao Tsé-Tung fariam visitas
constantes ao Brasil para aprender com a gente nossa forma de governar à
esquerda.
Mas não prendo meu pensamento para aquilo
que a gente perderia, mas, principalmente ao que deixaríamos de ganhar. Nosso
país jamais teria conhecimento da tolerância às opiniões divergentes do
Humberto de Alencar Castelo Branco, o respeito à liberdade de imprensa de Artur
da Costa e Silva, a observância dos direitos civis de Emílio Garrastazú Médici,
o zelo pelo dinheiro público de Ernesto Geisel e o carisma de João Batista
Figueiredo com as classes populares. Olha só o que estaríamos perdendo...
Os três primeiros nomes desta lista nos
fizeram o favor de nos livrar de pessoas nefastas como Fernando Henrique
Cardoso, José Serra, Leonel Brizola, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Pena que os
dois últimos deram um jeito de trazê-los de volta. Bem que poderiam ficar por
onde estavam.
É bem verdade que isso foi feito em troca
do perdão aos nossos soldados que cometeram pequenos deslizes para defender de
forma legítima a ordem e a moralidade em nosso país. Nossa sorte é que eles e
seus colegas de farda da América do Sul conseguiram nos livrar de párias como
Juscelino Kubitschek, João Goulart, Vladimir Herzog e Rubens Paiva.
O que seria dos nossos queridos fazendeiros
se eles tivessem que dividir as terras que conquistaram em troca de tanto suor
e sangue (alheio) com uma horda de campesinos? Certamente hoje em dia eles não
poderiam desfilar pelas ruas da cidade com suas caminhonetes imponentes, o que
seria uma perda irreparável para a nossa nação.
E se os nossos nobres reis do mercado
imobiliário tivessem que se sujeitar a normas que limitariam os seus lucros,
como vender a preços de banana seus imóveis aos inquilinos? Provavelmente eles
faliriam em menos de dois anos e os imóveis das principais cidades estariam na
mão de uma gente que não é capaz de cuidar de si mesmo, que dirá deste
patrimônio. Seria levar a Rocinha para a Barra da Tijuca, Itaquera para os
Jardins, o Sítio Cercado para o Boqueirão, o Interlagos para o Country.
Imagine...
As nossas maiores fortunas se diluiriam
nesse mar de indignidade ao qual nosso país se submeteria com o regime
comunista de Jango e seus pares. Os milionários, coitados, teriam que dividir
seu rico dinheirinho com seus empregados e até mesmo com pessoas a quem eles
costumam relegar um subemprego.
E se fossem altos executivos de uma
multinacional, o caso seria ainda pior, pois não poderiam encaminhar todos os
lucros para a matriz. Quem vem de fora e investe em nosso país merece retirar
daqui toda a riqueza que nossa terra tem a oferecer. Não é verdade?
Ah... estava me esquecendo. Graças aos
nossos mui queridos militares, nosso país foi preservado durante 28 anos da
ignorância do eleitor brasileiro, deixando para nossos honestíssimos senadores
e deputados federais a função de eleger o Presidente da República. O “dedo
podre” fica demonstrado em dois fatos: em 1961 fomos capazes de eleger Jânio
Quadros, o “homem da vassoura” que renunciou depois de oito meses de mandato
por estar sendo atrapalhado por “forças ocultas”; em 1989, com os soldados na
caserna e com a sensação de dever cumprido, colocamos, em clima de muita festa,
no poder o “caçador de marajás”: Fernando Collor de Mello, primeiro chefe da
nação brasileira a sofrer um processo de impeachment
e que renunciou ao cargo no final de 1992.
Depois dele, entrou o vice Itamar Franco
que fez o desfavor de projetar seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique
Cardoso, no cenário político nacional. O antigo comuna vestiu os vestidos de
Margareth Thatcher e fez Ronald Reagan sentir inveja da nossa capacidade de
reduzir o Estado a níveis mais inexpressíveis do que vinham sendo, como se isto
fosse possível. A única coisa que aumentou com FHC foi o mandato, com a emenda
constitucional que lhe deu o direito à reeleição.
Com ele, os preços em geral diminuíram, o
que deu maior poder aquisitivo ao trabalhador. Uma pena, pois nosso país era
bem melhor com a inflação e o arrocho salarial dos tempos do “Milagre Econômico
Brasileiro”.
Depois dele, ladeira abaixo... Lula foi
eleito em 2002 e, mesmo com um dedo a menos, surrupiou o erário no Mensalão e,
mesmo assim, se reelegeu e fez sua sucessora, Dilma Rousseff, uma bandida que
colaborou em emboscadas que vitimaram muitos dos nossos heróis verde-oliva. Ah,
se a repressão tivesse feito a coisa certa com aquela filha de imigrantes
búlgaros e com aquele sindicalista nordestino do ABC Paulista...
Tudo o que aconteceu de 1985 – com a saída do General Figueiredo –
até os dias de hoje mostra como foi importante nosso país ter sido governado
por gente séria e com grande senso de humanismo durante 21 anos. Foi uma época
em que corrupção, violência e abuso de poder não faziam parte dos noticiários.
Para ter uma ideia, nos jornais havia até espaço para lindas poesias e
deliciosas receitas culinárias...
Do alto dos meus 27 anos, lamento profundamente já ter nascido em um
país “redemocratizado”. É muito chata esta coisa de dar espaço para quem pensa
de forma diferente da nossa.
Se para mim isto já é complicado, que dirá para um governo que tem
que cuidar de um país inteiro. Em nome da liberdade de impor minha opinião a
todo custo a quem quer que seja, bendigo por todo o sempre o vento
revolucionário que soprou em nosso país a 31 de março de 1964.
* Esse texto trata-se de um exercício de
ironia do curso de Aperfeiçoamento Textual, ministrado pela professora Julie
Fank, da Escola de Escrita. Não representa em nada a opinião do autor.
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